É cada vez mais comum consumidores buscarem marcas que estejam comprometidas com causas sociais ou que os representem em seus produtos. Motivado em trazer essa experiência para a comunidade afro-brasileira, Anderson Rosa fundou a Saúda Afro, uma empresa que fabrica acessórios de moda e decoração com temáticas da cultura negra.A inspiração de Anderson para empreender na área de design foi seu pai, que era desenhista e o ensinou a desenhar. “Nós não tínhamos dinheiro para comprar roupa de marca. Então, quando eu estava na escola, eu pedia para ele comprar roupas lisas, sem estampa, para fazer minha marca. Grafitava tudo, roupas, blusas e tênis”, relembra Rosa.
Em 2013, essa bagagem artística levou Rosa a se formar em design gráfico. Mas o começo na profissão aconteceu apenas em 2016. Naquela época, trabalhando em uma empresa de comunicação visual, ele teve contato com máquinas de corte a laser e as diversas oportunidades que a tecnologia possibilitava.Em paralelo, Rosa frequentava aulas de samba rock, movimento que surgiu na cultura negra. Segundo ele, em uma dessas aulas, o brinco de uma amiga chamou sua atenção. “Um dia fui à aula e encontrei uma amiga que estava passando por uma transição capilar, que é o desapego da química para valorizar a beleza natural. Percebi que ela estava com um brinco bem brilhante e chamativo. Ela disse que comprou no litoral para usar enquanto fazia a transição para que a atenção ficasse voltada apenas aos brincos”, conta. Voltando para casa, Rosa conta que fez uma pesquisa de mercado e percebeu que conseguiria reproduzir os brincos com o mesmo material.
“Além do produto que minha amiga adquiriu no litoral, nós encontrávamos aqui outros parecidos com designs pouco criativos e copiados, pois eram feitos na China. Eram produtos com temática afro-brasileira, mas não feitos por afro-brasileiros. Então, fiquei motivado em trazer um design diferente e original que contassse a nossa história”, diz Rosa.Em 2016, ele fundou a Saúda Afro. No começo do negócio, Rosa vendia os acessórios que fabricava somente em feiras e eventos. “Eu busquei resgatar nos acessórios a identidade da população negra. Muitos dos nossos produtos tem o nome de várias referências de negras que foram esquecidas ao longo da nossa história”. Para expandir seus canais de venda, no mesmo ano, foi criado o site da empresa.
Como estratégia de negócio, o designer começou a vender em atacado, fazendo parcerias com mulheres para revender seus produtos. “As mulheres poderiam vender uma marca de cosméticos já consolidada, mas elas queriam contar a história delas através do produto. Além disso, entregar essa identidade para as clientes”, afirma Rosa. No modelo, as revendedoras pagam 30% menos e vendem com o preço sugerido. No entanto, hoje quase 70% das vendas são por meio do varejo e 30% do atacado.Com a chegada da pandemia, Rosa afirma que diversificou sua linha de acessórios, antes restritos a brincos e colares. ”Passamos por uma reinvenção e a fazer produtos que pudessem decorar o lar para o home office”. Atualmente, a empresa vende tanto acessórios de beleza quanto itens para decoração de casas. O tíquete médio é de R$ 120.
Outra tática para impulsionar vendas, segundo Rosa, foi fazer parcerias com revendedoras na Europa e blogueiras no Brasil. “Percebi que isso dava um engajamento na nossa página e acionei algumas blogueiras. Como éramos uma marca pequena, decidimos fazer parcerias com influencers que estavam começando. Junto a isso, começamos a exportar os acessórios e hoje estamos com 10 revendedoras no exterior”. O envio das mercadorias é feito em parceira com transportadoras como a DHL.
Em 2020, o faturamento da empresa foi de R$ 175 mil, mas teve uma queda em 2021. Além da escassez de produtos e inflação, Rosa teve de reduzir o tempo dedicado à empresa depois que sua esposa teve um acidente vascular cerebral (AVC). “Como todo negócio pequeno, a vida pessoal acaba respingando na profissional. O ano todo, eu trabalhei meio período para me dedicar à recuperação dela”, diz ele. Com apenas sua mãe e mais uma funcionária, ele ainda conseguiu faturar, em 2021, cerca de R$ 115 mil. A expectativa neste ano é dobrar o faturamento. Para o futuro, está no radar conseguir um aporte financeiro para evoluir a infraestrutura da empresa. Hoje, todas as peças são desenvolvidas com uma máquina de corte a laser. Além disso, o empreendedor pretende criar um programa de capacitação visando melhorar a abordagem de vendas das revendedoras.